Eu tentei...juro que tentei. Tentei entender e não condenar os pais dos dois jovens que cometeram suicídio neste último fim de semana (um aqui e outro em Morro Agudo). Mas não foi possível, porque tiveram sim sua grande parcela de culpa (se é que o de M.A cometeu este ato pelo mesmo motivo que o daqui, segundo fiquei sabendo).
Quando uma pessoa se descobre homossexual é um dilema. Ela por si só já se sente uma abominação, por ser diferente. É ai que começam as batalhas. A primeira é consigo mesmo. Esta pode não parecer, mas é a mais difícil. Esconder o que você é das outras pessoas já é difícil, imagina tentar esconder de você mesmo. Mesmo você sentindo e enxergando a realidade, você finge não ver. É como se vivessem 2 pessoas dentro de você, a que você é e a que você e seus pais gostariam que você fosse. Consequentemente surgem os medos. De sofrer preconceitos na sociedade, de ser rejeitado por amigos, familiares, e o pior, por seus pais. Aqueles que você ama incondicionalmente, que você só quer ver bem e sorrindo, que você só quer dar alegrias e que te fazem sentir protegido do resto do mundo, que são seu refúgio de amor e que te encorajam a seguir em frente. Pra alguns pode ser fácil enfrentar tal situação, mas para outros pode ser muito difícil.
Nós já esperamos tudo de pior do mundo e das pessoas que nele vivem, e nos acostumamos a correr para os braços de nossos pais para sentir aquela segurança, como se nada no mundo pudesse nos afetar ali. De repente você vê esses seus grandes heróis se virarem também contra você, te deixando a mercê deste cruel mundo e das pessoas maldosas que estão ali só esperando a oportunidade de te derrubar. É ai que vem uma sensação de desespero, misturado com vergonha, solidão e desgosto pela vida. Um mix de pensamentos ruins casados com o grande pesar de se "sentir abandonado" por quem te deu a vida. Oras, se estes mesmos não te aceitam, ou pelos menos respeitam, de quem mais você pode exigir isto?
E para muitos, a morte é a solução. Se não podemos mudar as pessoas ou fazer com que elas nos amem ou respeitem temos 2 alternativas: Enfrentar tudo de frente e de cabeça erguida (nem todos tem condições emocionais pra isso) ou terminar com o problema (que na cabeça desses pobres jovens eram eles mesmos). Um triste fim para pessoas que tinham uma vida inteira pela frente, mas que por um momento de desespero preferiram trocar suas próprias vidas para não viverem do que seria uma vergonha a seus pais.
No fundo da minha alma, mesmo sem os conhecer de perto, eu choro e me pergunto até quando isso vai acontecer? Até quando se você não apanhar na rua você vai apanhar em casa? Quando os pais vão entender que o que eles sonham para a vida de seus filhos, não é o que necessariamente seus filhos sonham para si?
Enquanto não consigo as respostas, eu me calo diante do único que as tem, Deus...e que este possa perdoar estas crianças e caso necessário, possa julgá-las, pois ele é o único capaz disso.
(Um desabafo de alguém que consegue entender o que se passava na cabeça destes jovens, pois ninguém tira a própria vida por uma bobeira atoa). by Ewander Cristovao de Sousa
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